domingo, 5 de junho de 2011

Onde pára a inovação

Há palavras que valem mais do que outras. Palavras que adquirem um valor que ultrapassa o seu significado. Normalmente um valor emotivo ao qual é difícil ficar indiferente, até por este ser partilhado por um grupo.

Estas palavras têm uma função importante, são mobilizadoras e desencadeiam comportamentos. Contudo, dado que o seu valor ultrapassa o seu significado, estes comportamentos podem não ter um fundamento na realidade. Esta situação não é necessariamente negativa, por exemplo algumas teorias económicas defendem que o optimismo do mercado é fundamental para o crescimento. O difícil é perceber a fronteira entre o optimismo e a bolha que ele pode criar.

Uma palavra que ganhou nos últimos anos algum deste efeito placebo, é a palavra inovação (sobre o efeito placebo associado ao valor ver Why a 50-cent aspirin can do what a penny aspirin can't de Dan Ariely). Ainda é cedo para avaliar se os comportamentos gerados criaram as sinergias necessárias e se estas tiveram de facto um impacto social e económico, mas, a palavra também funcionou como um agente de esperança.

No clássico The Innovator's Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail, Clayton M. Christensen estudou a indústria dos discos de computador. Esta indústria teve ciclos de inovação muito rápidos entre os anos 70 a 90. Ele observou que, nas empresas que foram sucessivamente perdendo a corrida pela inovação, a gestão fez o que devia ter feito, esteve centrada nas necessidades dos clientes. E, paradoxalmente, a tecnologia inovadora deve origem nessas empresas, ou então, elas tinham os conhecimentos necessários para criar a tecnologia inovadora. O que se passou foi que os seus clientes não estavam interessados na nova tecnologia.

As empresas que inovaram foram aquelas que descobriram/criaram clientes para a tecnologia. Estes clientes permitiram criar um novo mercado. Neste mercado a nova tecnologia aperfeiçoa-se e acaba por integrar o mercado dos clientes que inicialmente eram reticentes à mudança tecnológica. Quando isso acontece, as empresas que eram dominantes são destronadas pelas empresas emergentes.

A engenharia de requisitos é a fase do desenvolvimento de um sistema de informação em que se identificam as necessidades do cliente e se escreve uma especificação do sistema de informação a desenvolver. Dada a imaterialidade do software e a complexidade do contexto onde o problema existe, o engenheiro de requisitos tem bastante margem de manobra para criar/influenciar a definição do problema.

Nesta fase de engenharia de requisitos é possível inovar, no sentido em que é possível reformular o problema num contexto não previsto pelo cliente. Alguns gurus da engenharia de requisitos chamam a isto inventar requisitos. 

Esta diferença entre a engenharia de software e as engenharias mais clássicas está relacionada com a capacidade de um sistema de informação criar/alterar uma linguagem, como referi em A linguagem da informação. O que pode incluir alterar o significado de palavras, veja-se a palavra amigo no Facebook. Por outro lado, para ser inovador, um sistema de informação pode não necessitar de tecnologias disruptivas. Em A Face de todas as Faces refiro que a complexidade funcional do Facebook é diminuta e a sua complexidade tecnológica é o resultado do seu sucesso, necessidade de fornecer serviços a um grande número de utilizadores, e não a sua causa.

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